Eu fui uma criança franzina e tímida. Comecei a jogar vôlei e descobri algo em que eu era realmente bom nos tempos de escola. No entanto, eu era um menino muito delicado e afeminado. No ambiente escolar é comum que meninos como eu sofressem bullying o tempo todo. Além disso, eu jogava vôlei. Um esporte de “bicha”. Odiava a atenção que isso trazia para mim. Eu não precisava fazer nada, mas estavam sempre falando a meu respeito.
Um dia, durante o Jogos Escolares Maranhenses, em São Luís, o meu técnico na época ao comentar meu desempenho no treino daquele dia disse que além de não ter treinado bem eu precisava tomar cuidado pois eu estava sendo falado por todos os cantos pelo “que eu vinha fazendo no banheiro da escola”. Fiquei surpreso porque, de fato, não fazia a menor ideia do que ele estava falando. Como de costume, fiquei calado pois mesmo se falasse não acreditariam em mim.
Mais tarde os meus colegas de time (alguns amigos, que me conheciam de verdade e com quem tenho bom relacionamento até hoje) me disseram que alguém espalhou que eu vinha fazendo sexo oral em meninos do ensino médio (eu tinha 11 anos na época e embora cheio de traumas nem pensava nesse tipo coisa). Foi nessa época que confessei Jesus como meu Senhor e Salvador e iniciei uma vida verdadeiramente devota mesmo bem novo.
Ao voltar para casa, descobri que meus pais queriam me colocar no futebol e me tirar do vôlei, pra “me ajudar”. Eles acreditaram nos boatos. Quando eu disse à minha mãe que não queria jogar futebol ela me disse, chorando: “meu filho, você não quer ser ajudado?”. De novo, não fazia a menor ideia do que aquilo queria dizer. Naquele dia, no meu quarto, eu decidi que nunca queria ser conhecido por nada na vida. Nunca gostaria de ser famoso. As pessoas, certamente, diriam coisas ruins ao meu respeito, mesmo que eu fosse uma pessoa que estava tentando ser boa e agradável.
Pensando sobre isso descubro o quanto as coisas que nos acontecem mudam completamente a rota da nossa vida. Eu canto muito bem. Participei do The Voice Brasil na primeira temporada. Fui até a semifinal. Após o reality, tinha tudo para correr atrás da carreira. Não quis. Havia a chance de eu me tornar famoso.
Sinto que eu tenho o que dizer ao mundo, mas tenho medo. Medo de alguém ouvir e achar que outras pessoas devem ouvir também. E isso fazer com que eu volte a ser novamente aquele menino afeminado que só queria jogar vôlei, ler sua Bíblia e ser um bom aluno.
Admito a covardia ao não encarar a possibilidade de deixar de ser autêntico se algum dia eu ficar conhecido por algo. Mas não é só covardia. É também a certeza de que a minha importância não reside no quanto me conhecem. A maioria das pessoas famosas que conheço precisam parecer um pouco diferente de quem elas realmente são para manter as pessoas atentas. Consigo pensar em duas ou três exceções, mas não tenho garantias de que vou ser uma delas. Além disso a maioria dos famosos que conheço confundem fama com sucesso, quando na verdade não são coisas obrigatoriamente atreladas.
Essa semana fiz 35 anos e uma das coisas que me alegraram foi o fato de estar envelhecendo. Ter rugas surgindo, cabelos brancos se multiplicando me ajudam a discernir com o que eu devo gastar energia. Ser famoso, conhecido ou relevante não é uma dessas coisas. As vezes me ressinto por ter algo a dizer e não ter um público, no entanto logo me pacifico com a graça que é ser semianônimo. É difícil. Eu me escondo mas numa multidão sempre me acham.
Meu filho nasce em Agosto. Quero criá-lo para não ter medo do sucesso. Quero acreditar nele quando os boatos chegarem. Quero protegê-lo da língua mentirosa e quero ensiná-lo a amar a si mesmo. Não quero obrigá-lo a ir ao futebol e nem ao vôlei. Quero ajudá-lo a ser um bom homem, temente a Deus e aberto para a vida.
Uau, que incrível o seu ponto de vista de observar as falhas de alguns que desencadeou esse receio em você de ser “famoso” e o fato de você aperfeiçoar a sua paternidade para não acontecer o mesmo com o seu filho. No mundo em que vivemos hoje, a confiança e a conversa profunda entre pai e filho é incomum.
Muito bom